<em>Democracia exposta</em>

José Casanova
Curiosa, e por demais significativa, foi a predominância das bandeirinhas norte-americanas nas mãos dos kosovares que diziam (e julgavam) estar a festejar a independência do seu país.
Não se trata propriamente de uma novidade, já que situações semelhantes têm ocorrido em todo o mundo ao longo dos anos: o imperialismo norte-americano tem uma vasta experiência em cerimónias deste género – sempre antecedidas de cruéis morticínios à boa maneira do império.
Como aconteceu desta vez: em 23 de Março de 1999, Solana, previamente contratado por Clinton para secretário-geral da NATO, ordenou - sem mandato da ONU e apoiado pelos habituais governos europeus, entre eles o do PS/Guterres - os bombardeamentos sobre a Jugoslávia, iniciando assim aquilo a que chamou uma «intervenção humanitária», levada à prática pelas fortalezas voadoras B-52, os caças-bombardeiros B-2 e os mísseis Tomahawk.
Milhares de toneladas de bombas (de «fragmentação» e com «urânio empobrecido») foram lançadas sobre bairros e lares residenciais, hospitais, escolas, fábricas, pontes, lares de refugiados, refugiados nas estradas, centrais eléctricas, sistemas de abastecimento de água potável – fazendo milhares de mortos.
Entretanto, no interior, concretamente no Kosovo, a acção criminosa da NATO era apoiada por um grupo terrorista que se auto-designava «Exército de Libertação do Kosovo» (UÇK) organização criada pelos EUA, a Grã Bretanha, a Alemanha, etc, e cujo símbolo era o mesmo usado por um grupo nazi (criado pela Alemanha nazi, na 2ª guerra mundial) para combater os resistentes jugoslavos.
Assim, enquanto a NATO bombardeava impiedosamente o território jugoslavo (Kosovo incluído), os terroristas do UÇK, em terra, perseguiam e assassinavam compatriotas seus.
Agora, «chegou o dia em que o Kosovo é orgulhosamente independente e livre» - mentiu, no domingo, com voz cheia de requebros democráticos, o actual primeiro-ministro do Kosovo, Hashim Thaçi, «democraticamente eleito», como é uso dizer-se nestes casos.
Neste específico caso, contudo, com a de­mo­cracia toda à mostra, já que este Hashim Thaçi é nem mais nem menos do que o «Comandante Cobra», antigo chefe do UÇK.


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